O conteúdo desta frase de para-choque de caminhão, na avaliação de Omar José Gomes (Sr. Omar), presidente da CNTTT – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Terrestres retrata a dura realidade dos caminhoneiros brasileiros que diariamente convivem nas estradas e rodovias com as mais variadas situações de risco. Tais como acidentes, assaltos, intempéries, problemas mecânicos no veículo, jornadas longas e estafantes, além das próprias condições de saúde (fome, sono, dores musculares etc.).
Diz ter conhecimento que diante de tantas adversidades e pressões para carregar e descarregar cargas no tempo estipulado, o exercício dessa profissão expõe os motoristas à ansiedade, ao medo e ao sofrimento do trabalho. “Para atingir alta produtividade, muitos, infelizmente, submete-se a um ritmo intenso de trabalho, cuja jornada de trabalho chega a superar 15 horas diárias ou mais”.
Veterano na defesa dos interesses dos trabalhadores (as) em transportes rodoviários e de cargas, o sindicalista afirma, que na tentativa de neutralizar o sofrimento psíquico, uma pequena parcela, utiliza-se de mecanismos que o colocam em risco, como dirigir em alta velocidade, trabalhar por longos períodos sem descanso e fazer ultrapassagens em locais perigosos.
E que no labor da profissão, a relação entre trabalho e medo é vivenciada individualmente, já que trabalho é solitário e cada um torna-se vigilante permanente do veículo. De acordo com ele é muito comum ouvir dos caminhoneiros que eles “são escravos do trabalho”, por ficar o tempo todo tomando conta do caminhão, seja na hora de abastecer, fazer refeição ou descansar. A regra é ficar de olho ligado para ver se ninguém vai mexer.
O grande líder sindical garante, que infelizmente, diante de tantos problemas à que são expostos, alguns, buscam estratégias para manter a resistência física e se submetem às longas jornadas de trabalho. “Uma prática bastante comum é o consumo de remédios, cujos efeitos colaterais são a inibição do sono, da fome e do cansaço físico e mental, entre outros. Conhecidos como rebites, na verdade, tais medicamentos provocam efeitos devastadores, além de dependências psicológicas”, comenta.
Conhecido pela sua incansável luta pela aprovação da Lei 12.619/2012 (Lei do Descanso), Sr. Omar ficou decepcionado dois anos depois após a aprovação de outra legislação, a Lei 13.103/2015 (Lei do Caminhoneiro) que em sua opinião só beneficiou os empresários e expos a categoria mais ainda aos riscos de acidentes. “Pesquisa feita pela entidade patronal CNT e divulgada em fevereiro aponta que 88,4% têm conhecimento da nova legislação, mas 34,7% não estão satisfeitos e não cumprem o tempo de descanso. Os entrevistados reclamam da falta de ponto de apoio para cumprir o que determina a lei”, relata.
O experiente sindicalista ficou preocupado com os dados da pesquisa “CNT Perfil dos Caminhoneiros”, referente ao consumo de drogas em que 12% dos profissionais entrevistados assumiram já ter experimentado algum tipo, entre elas, as anfetaminas (popularmente conhecidas como rebite), a cocaína e a maconha. Ele desconfia que entre os possíveis motivos que os levam utilizarem drogas, está o “isolamento” da família e dos amigos, a “falta” de segurança, as “más” condições das rodovias e do trânsito nas grandes cidades e a “pressão” por conta das grandes responsabilidades quanto ao transporte de passageiros e de cargas perigosas.
Sr. Omar disse que a CNTTT se posicionou contrária à norma que obriga o motorista profissional a fazer “Exames Toxicológicos” e entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a Lei 13.103/2015, que instituiu a obrigatoriedade do exame, além de orientar as Federações do Ramo do Transporte Rodoviário para ingressarem com pedido de “Amicus Curiae” para reforçar a ação.
“Não é apenas o consumo de drogas e de álcool que prejudica as funções motoras, cognitivas e sensoriais das pessoas. Especialistas em saúde dizem que medicamentos aparentemente simples, como antigripais e analgésicos, também podem interferir nessas habilidades e trazer consequências graves, como o envolvimento em acidentes, muitas vezes fatais. Querer responsabilizar e criminalizar o motorista profissional por todos os males das estradas é uma tremenda injustiça ”, finaliza Sr. Omar.